Últimas Notícias

O Canto da Sereia


É sereia, piranha ou pomba (gira)?

Que bicho é esse eu não sei, mas "O Canto da Sereia", microssérie exibida em quatro capítulos pela Rede Globo, chamou a atenção desse desiludido ex-telespectador da teledramaturgia brasileira. Após a minha descoberta por séries americanas, surgiu um sentimento horrível em relação às produções nacionais. Surgiu uma grande revolta por alertar-me de que estão nos empurrando goela abaixo produtos feitos apenas para ganhar dinheiro, ibope. Mas isso é outra história.

A verdade é que "O Canto da Sereia" me surpreendeu. Claro que não houve nada de espetacular, mas bem acima das últimas produções que acompanhei. Uma microssérie de quatro capítulos estrelada pela Isis Valverde é impossível de não assistir, mesmo que fosse apenas para apreciar a sua beleza. Mas foi acima disso. Quatro capítulos que contaram bem uma longa história de forma sucinta e coesa, mas que só não foi melhor devido a ruim e velha preguiça dos roteiristas brasileiros.

Sereia é baleada e morta. Todos queriam saber quem matou a diva do Axé. Seu fiel segurança toma por honra o seu descobrimento, mas só descobre os podres que envolveram a sua vida. Descobre quem matou sua diva, mas desiste pela vingança ao saber o motivo. Muitos suspeitos em pouco espaço de tempo, mas o grande acerto da produção foi ter plantado a dúvida em nossas cabeças a todo instante e até o último minuto.

A desconfiança aumentou após descobrimos que Sereia estava com seus dias contados e que poderia sim ter encomendado sua morte, mas isso era só desconfiança, do mesmo tamanho das demais. Ninguém batia e nem poderia bater o martelo quanto a isso, porém, os roteiristas preguiçosos poderiam ter feito diferente. Poderiam ter deixado o anúncio de sua doença para depois da descoberta do assassino, trazendo impacto e alívio com a resolução do mistério.


É o mesmo caso do assassinato de Tuta. Um assassinato inesperado que poderia ter sido adicionado a trama de algum jeito para que pudesse amarrar bem a história. Ninguém sabe quem o matou e nem saberá. Um pedaço da história completamente relevante que foi tratado com desdenho, infelizmente.

Contudo, considero a microssérie boa. História interessante, com estrutura de passado, presente e futuro que instigaram o enredo. Boa produção, ótimas tomadas de câmeras e ótimas atuações. Destaque para Isis Valverde e não digo apenas pelas suas aparições peladinha. Eu fiquei impressionado com sua atuação. Ela encarnou literalmente uma diva do axé, com sotaque, ginga, caras, bocas e sorrisos. 

Nem dá pra reclamar da sempre "nudez gratuita" da TV nacional porque a desnuda da vez, é a Isis Valverde. Das outras que apareceram dá.

Acredito que poucos (pra não dizer ninguém) acertaram o assassino da Sereia, mas muitos acertaram que ela própria tinha encomendado a sua morte. Achei bem legal a resolução. O assassino poderia ter saído de diversos lados, mas veio de um lado que justificou a história. Apenas repito que os roteiristas perderam a chance de impactar, ao revelar a doença de Sereia precocemente.  

Sempre digo que o Brasil é repleto de excepcionais atores, mas que são conduzidos por péssimos diretores e preguiçosos roteiristas. Mas não me arrependi de retomar às produções nacionais. Essa estrutura de poucos episódios é bem chamativa e praticamente exclui aquela enrolação comercial que vemos nas novelas.

Valeu a pena.

Nota 06/10